terça-feira, 28 de junho de 2011

Entrevista com Jorge Jiménez do jornal La prensa Grafica - Um exemplo

A entrevista a seguir foi publicada pelo periódico La prensa Grafica de El Salvador, logo após a conquista do segundo lugar na etapa da Copa do Mundo de Tiro com Arco na Croácia pelo atleta Jorge Jiménez. 

Jorge, dono de um currículum invejável e atual ocupante do segundo lugar do ranking mundial, teve de pedir um empréstimo para arcar com as despesas de sua participação na etapa, e mostra sua dedicação a um esporte que por vezes não traz reconhecimento nem retorno financeiro.

"Jorge Jimenez é um atleta dedicado ao tiro com arco, esporte a que se dedica em tempo integral, sem se preocupar com uma lista de problemas que tem de enfrentar para competir nas etapas da Copa do Mundo e em outros eventos internacionais. Para sua estréia no circuito mundial de 2011, ele que desde ontem ocupa o segundo lugar do mundo, teve de pedir dinheiro emprestado, para não ficar de fora da primeira etapa em Porec, na Croácia

Que expectativas você tem para a segunda etapa em Antalya (Turquia)?
Estou motivado por ter iniciado com uma medalha e 21 pontos em Porec, e com esperanças de ter minha revanche com Roger Willet, que ganhou de mim na final. O objetivo é fazer um bom trabalho e assegurar a metade do caminho em direção a final de 2011.

Você está classificado em segundo lugar no ranking mundial da FITA. Como se sente estando em um lugar tão privilegiado?
Sinceramente é um grande orgulho e satisfação por El Salvador, por toda a alegria que traz aos salvadorenhos. Me parte o coração quando estou no pódio e vejo outra bandeira mais alta que a de El Salvador. Exige muito trabalho e esforço.

Com um monte de obstáculos internos que você tem de superar para praticar o seu esporte, como você faz para se aproximar dos Top 10?
Tudo é produto de um conjunto de elementos: o trabalho do atleta, dos dirigentes, o apoio institucional do INDES (Instituto Nacional do Desporto de El Salvador) , COES (Comitê Olímpico de El Salvador) e de empresas privadas. É um trabalho de anos e não foi facil ter chegado até aqui. Seria um pena perder isto. Digo isso por mim e meus companheiros, que merecemos o crédito de estar entre os melhores do mundo. Agradecemos ao INDES e ao COES pelo apoio e pelo chamado às empresas privadas para olharem para o esporte local.

O que você pode dizer sobre a equpe salvadorenha que caiu do 2º para o 6º lugar no ranking mundial por não ter competido em Porec?
Como salvadorenho e arqueiro, espero que seja dada a oportunidade para que Rigoberto Hernández viaje conosco junto ao Roberto Hernández para a Turquia para recuperarmos o terreno e voltarmos à segunda posição da FITA.

Com relação aos resultados internacionais, o tiro com arco composto é o esporte salvadorenho de maior sucesso?
Pessoalmente, não gosto de dizer isto, diria que, no que se refere a resultados, estamos entre os primeiros, entre os melhores. Mas além dos resultados, o importante é destacar o trabalho de todos os membros do esporte e os triunfos obtidos para o país.

Se você tivesse todas as facilidades para se dedicar ao seu esporte, como a maioria dos seus adversários, tudo seria mais fácil?
Claro que sim, tudo seria muito mais fácial e diferente. Dedicaria 100% das minhas energias e me focaria mais na preparação. É verdade que a maioria dos arqueiros que atiram nas Copas do Mundo tem tudo de mão beijada, assim deveria acontecer conosco, mas o que vamos fazer? Não vou ficar chorando e nem ficar deprimido.

Com a sua experiência e dono de tantos sucessos, o que você diz da atitude ou da mentalidade do atleta salvadorenho?
Ele tem a autoestima muito baixa. De início acham que não podem chegar muito longe e dessa forma nunca chegarão. Os jovens tem de trabalhar, tem de ter fé."

terça-feira, 21 de junho de 2011

Henrique Meirelles é nomeado para a APO

Foi publicada na última sexta-feira a nomeação do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, como representante da União no conselho Público da Autoridade Pública Olímpica.

Segue a nota na qual Meirelles se mostra entusiasmado com o desafio:


"É com grande entusiasmo que recebo o desafio de presidir o Conselho Público Olímpico, o órgão máximo da Autoridade Pública Olímpica. Como representante da União, presidirei o Conselho, responsável pela coordenação das ações das três esferas governamentais (federal, estadual e municipal) envolvidas na realização dos Jogos Olímpicos de 2016. Serão membros do Conselho, além do seu Presidente, o Governador do Estado e o Prefeito do Rio de Janeiro.
Dentro do sistema de gestão das Olimpíadas, que ajudei a elaborar, a presidência do Conselho é o posto mais adequado para que eu possa dar a máxima contribuição para o sucesso das Olimpíadas de 2016. Agradeço à presidenta Dilma Rousseff por me indicar para um posto tão relevante nesse projeto transformador para o Rio de Janeiro e para o Brasil."

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A palavra dos atletas

Andrey Muniz, membro da Seleção Brasileira Para-Olímpica de tiro com arco:
"Isso é resultado de um trabalho contínuo que vem sendo feito há 3 anos. O para-olimpico cresceu muito no pais nesse período. Também está sendo muito bem visto no exterior pelo nosso progresso e resultados. Devemos tudo isso ao nosso grande, técnico e amigo Christian Haensell. Temos a certeza que se não fosse por ele não estaríamos onde estamos. Ele abraçou essa causa, lutou e brigou por nós (...) não teríamos feito escolha melhor ao indicar o nome dele quando nos foi consultado. 
Estamos todos indignados com sua demissão, que foi feita à nossa revelia, às vésperas de um mundial tão importante para nós quanto para o país, onde iremos lutar por vagas para representar o país nas paraolimpiadas de 2012 visando uma experiência para 2016.
(...)
Essas medalhas conquistadas na Inglaterra nós dedicamos a você Christian. Obrigado por tudo que você fez para e por nós!!!
Vamos dar continuidade em tudo o que você nos ensinou e vamos correr atraz dessas vagas para 2012 por você e pelo pais!!!"

Julio Oliveira, membro da Seleção Brasileira Para-Olímpica de tiro com arco:
"Esse é o resultado de um trabalho em equipe, colaborativo e comprometido que liderado pela dedicação e competência do Christian que além de conhecer profundamente o tiro com arco, conhece cada um de seus atletas e sabe as nossas forças e fraquezas. Eu como atleta só tenho a agradecer pelos conhecimentos aprendidos pelo Coach Haensell que nos treinou não somente técnicas de tiro, mas também como trabalhar com caráter e humildade  para atingir nossos objetivos e hoje estamos colhendo os resultados desse projeto bem elaborado e gerido..."

Fernando Chagas, membro da Seleção Brasileira Para-Olímpica de tiro com arco:
"Obrigado a todos pela força, e um agradecimento muito especial ao Christian Haensell que se despede com a certeza de que fez seu trabalho com dignidade e muita competência.
Obrigado pela família que formamos que nos fortalece cada vez mais nas a cada torneio.
O espírito de equipe já é visível entre nós, o que nos fortalece perante as outras delegações."

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Confederação Demite Técnico por E-mail

Hoje fui surpreendido pela notícia que, em meio ao Para-Campeonato de Ranqueamento Internacional em Stoke Mandeville no Reino Unido, um dos mais importantes campeonatos do mundo, a Confederação Brasileira de Tiro com Arco demitiu o técnico da seleção, Christian Haensell.

A notícia espanta pelo fato de ser completamente inexplicável do ponto de vista técnico. As atitudes do técnico Christian sempre foram pautadas pela ética e pelo trabalho. Desde o início de seu trabalho, nunca poupou esforços para se especializar na técnica do tiro com arco, prova disso são as suas duas viagens a Coréia (Coach Kim archery School) e uma para o Egito (FITA coach level 2), feitas às suas próprias expensas. Além disso, é uma pessoa extremamente cuidadosa com o trato dos recursos financeiros destinados para os atletas para-olímpicos, que com um orçamento muito menor que os atletas olímpicos conseguem realizar muito mais viagens para competições e treinamentos.

Desde que assumiu a equipe, não só o número de atletas para-olímpicos de tiro com arco no Brasil cresceu, como também cresceu a média de pontuação dos principais atletas da seleção brasileira. Em 2008, o campeonato Brasileiro Para-olímpico foi realizado na cidade de Brasília e reuniu cerca de quinze atletas, que se misturaram com outros atletas não portadores de necessidades especiais.

Campeonato Brasileiro Para-Olímpico de 2008
 
Em 2011 o mesmo campeonato, também realizado na cidade de Brasília, reuniu 32 atletas que preencheram as raias em um evento exclusivamente para-olímpico. 

No Campeonato Brasileiro Olímpico de 2009, realizado em Bento Gonçalves, as pontuações de 70 metros de Luciano Reinaldo, Adhemar Carlini e Ricardo Macedo, três atletas da seleção para-olímpica brasileira, foram respectivamente 212, 184 e 169 pontos. No Brasileiro de 2011 foram 296, 242 e 280, um aumento médio de 44%. O que para uma equipe de tiro com arco que disputará vaga para os Jogos Olímpicos no próximo mês é a diferença necessária para a obtenção da vaga.

A confirmação do bom trabalho pode ser provada pelos resultados que a equipe vem obtendo no presente Campeonato de Ranqueamento em Stoke Mandeville, em que ontem a equipe de recurvo ganhou da tradicional equipe da Ucrânia (3º colocada no Campeonato Mundial de 2009) e vai disputar o bronze. A equipe de composto derrotou a Ucrânia e a tradicionalíssima Itália e vai disputar a medalha de ouro com a Inglaterra. É digno de nota também que hoje o Francisco Dantas de Natal, vai disputar a final do torneio individual, tendo derrotado em suas preliminares atletas que se encontram muito bem colocados no ranking mundial.

Por tudo isso, é fácil perceber que vem sendo realizado um trabalho muito cuidadoso e de alto nível no para-arco brasileiro, com chances reais de medalhas para-olímpicas. A atitide da confederação, além de não ser polida por se utilizar de um canal como o e-mail, é muito estranha pois "mexe num time que está ganhando", no meio de um ciclo que culminará nos Jogos Para-Olímpicos de Londres em 2012.

Sei que isso não diminuirá a disposição do técnico Christian em continuar se especializando e ajudando o desenvolvimento do tiro com arco no Brasil, na sua escolinha de arco e flecha já passaram centenas de alunos, sem contar os inúmeros projetos feitos para portadores de necessidades especiais (inclusive cegos). A evolução do tiro com arco no Distrito Federal, que de inexistente passou a disputar os primeiros lugares no Brasil é resultado do trabalho de Christian. Para os atletas de Brasília, a notícia tem um lado positivo pois agora ele poderá dedicar mais tempo à equipe. 

Equipe de tiro com arco de Brasília, técnico Christian em baixo no centro.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Top 20 - II

Há também um pouco de tristeza, porque é inevitável comparar o nosso esporte com outros, o tênis por exemplo. A comparação é inevitável, pois no tênis, temos atualmente um brasileiro, Thomaz Belucci, que se encontra entre os 30 melhores do mundo. 

A exposição na mídia é infinitamente superior, basta comparar o número de artigos publicados sobre Belucci, que perdeu no round  1/32 no torneio de Roland Garros, um dos quatro maiores torneios de tênis do mundo, com o número de artigos publicados da final de copa do mundo que o Tico disputou, ou para tomar um momento mais recente, o fato de o Marcelo ter chegado no round 1/16 em Porec, um dos cinco torneios de tiro com arco mais importantes da temporada. 

A quantidade de torneios internacionais de ranqueamento e a distribuição de prêmios no tiro com arco é muito inferior. Atualmente, no tênis, praticamente cada país tem um torneio anual de ranqueamento, que distribui prêmios atrativos. O torneio de Santiago, por exemplo, em sua última edição pagou Us$ 68.000 para o vencedor. Em 2010, eu, Daniel Xavier e Fabio Passeto, ganhamos o Torneio Bicentenário em Santiago e voltamos felizes com nossas medalhas. Felizmente eu e o Fabio temos nossos empregos para permitir que continuemos treinando.

Quanto ao número de torneios de ranqueamento, haverá, nas Américas em 2011, um campeonato no Chile, um na Venezuela e dois nos Estados Unidos, quase todos sem premiação excetuando-se a Etapa da Copa do Mundo em Ogden (EUA), que pagará a modesta soma de 2.000 francos suíços ao primeiro colocado.

Como última comparação das diferenças abissais entre os dois esportes, Bellucci conquistou em sua carreia Us$ 1.831.673 em premiação, um valor suficiente para mantê-lo em treinamento em dedicação exclusiva. Tico, o único arqueiro brasileiro a conquistar prêmios em dinheiro no tiro com arco, não deve ter ultrapassado a casa dos Us$ 20.000 (estimativa não oficial) e sendo comparativamente muito melhor do que Belucci.

O fim da era amadora no tênis acabou há algumas décadas atrás, já na década de 70 haviam os grandes ídolos do tênis mundial, com nossos ídolos locais. O Tiro com Arco ainda não acordou para atingir todo o seu potencial e os argumentos de dificuldade de se transmitir o esporte são fracos pois, comparando-se com o golfe, entendo que as dificuldades são maiores, principalmente pelo fato de os jogadores não estarem todos no mesmo buraco ao mesmo tempo.

Espero que estejamos passando por um processo de profissionalização. Os resultados obtidos pelos atletas em âmbito mundial tem subido bastante. No Brasil já temos 8 atletas brasileiros treinando em tempo integral. Quem sabe ainda nesta década veremos o primeiro milionário do Tiro com Arco.